Control Alt Del
4.28.2006
4.24.2006
4.20.2006
Dormente
Anjo ou deus,Que me percorre a alma acariciando o corpo.
A ti só pedirei que me concedas o que nunca te vou exigir.
Porque tu és vadio...
Nem quieta nem inquieta espero pelo que o fado me trouxer
mas se me ergueres, erguerás ouro
porque sinto prazer, sinto dor
e porque para ti me dou como se nunca tivesse sofrido.
Mas tal como é, gozemos o momento.
Aguardando o amor como alguém que o conhece
E lhe reconhece os defeitos, os feitios.
E de longe vejo o cimo da montanha branca
e o sol que suave beija o gelo fazendo-o chorar de ventura.
Eu quero chorar com os teus beijos, Sol.
Quero que me descongeles, porque há muito tempo que sou geada.
Quero que me beijes os lábios solitários
Quero que me ocupes o corpo descampado
nas noites que caem doces sobre nós.
E quando o mar engolir a areia e arrastar com ele todos os castelos
Eu quero que o nosso subsista.
Porque tu és vício...
Dormente, a dormir sorrio.
Porque me pesas no corpo e me beijas a alma.
Gato vadio.
4.12.2006
Devolve-me a alma
Sangue insano.Entraste no meu corpo excessivamente
E seguindo a minha vontade invadiste a minha casa
Arrancaste-me do chão rompendo-me a camisa.
E não tenho quem me cosa.
Traz a minha alma quando voltares.
Devolve-me a camisa rasgada.
Resgata-me do barco no meio do rio.
Eu que fui monotonamente abandonada ao meio-dia.
Que o meu corpo se transforme numa vela
E o vento do meu sofrimento me sopre para longe daqui.
Levarei na aragem o teu perfume, flagrante de mim.
E ficará nas águas o teu rasto distanciando-te de mim.
Sangue insano.
Deixa-me convencer os teus lábios de que dos meus recebes vida.
Desejei um mundo que só posso ver contigo.
Com os meus olhos nos teus, perdi-me de vista.
E não tenho quem me salve.
Resta-me apenas guardar e resguardar o nosso segredo
no escuro do frio,
Da noite antiga que se seguiu.
4.11.2006
Capitulo 3 Cabinda, Angola
Passei a primeira noite sem conseguir dormir. Cabinda exalava um som de fundo vindo da floresta do Maiombe e aos fins-de-semana o batuque nas senzalas inundava a cidade. As vozes pareciam atravessar o tempo, atrasando-se, adiantando-se a ele. Ao redor das fogueiras, as festas alimentavam os indígenas noites e noites inteiras. Na cidade, e sem conseguir conciliar o sono, levantei-me da cama pequena de madeira que me tinha sido oferecida com todo o carinho pela Família Amaro Pereira. O quarto era grande, e amplo, contrastando com a cama. Abri a janela e a minha boca abriu-se ao ver os poços de petróleo distribuídos pelo alto mar, qual archotes espalhados. A imagem do petróleo extraído na teia de plataformas junto à costa ainda é totalmente clara para mim. Podia ver pequenas fogueiras ao longe, em cima do mar, como que decorando e iluminando essa massa de água no escuro.Acordei em Cabinda. Entre o mato e o mar. Tinha 17 anos e cabelos compridos. Andava descalça pela cidade, ou com apenas umas sandálias que tinha trazido comigo do Lobito. No Lobito apanhava os machimbombos, os autocarros comuns, quando ia para a escola ou para a praia, mas frequentemente preferia os bulamas, autocarros mais usados entre os indígenas porque se podia andar descalço. Assim que saía de casa para ir para a escola, tirava as sandálias e colocava-as ao pescoço. Nascida em Nova Lisboa, no ano de 1953, eu tinha tudo para ser confundida com os nativos de Angola. A única coisa que me distinguia era a cor da minha pele. Apesar de queimada pelo sol.
A cidade de Cabinda recebeu-me de braços abertos com os seus caminhos largos, passeios limpos e brancos, com as suas casas semeadas como calhava por entre a verdura, as árvores que ofereciam sombra, com os cheiros que emanavam da floresta e que me diziam que estava em casa, e com as praias e mar que me deliciavam. Nas ruas, as indígenas vestiam-se com os panos coloridos de Cabinda e do Congo. Eu vestia-me com bermudas e camisas atadas à cintura. Soltava ou prendia o cabelo com um lápis. E caminhava ao ritmo das músicas cantadas nas senzalas que tinha ouvido na noite anterior.
4.10.2006
Do outro lado
Perturba-me ver-te imóvel e gélidoQuando o teu corpo sem vida se junta ao meu.
Perturba-me ouvir a tua voz que me impregna de frio
Quando a que penso ouvir é apenas um eco da minha.
Sem olhares para trás arrastas a minha sombra pelas águas
E carregas o meu corpo pelos campos
Até que me deixas abandonado em qualquer lugar
Onde me encolho e refugio no amor que por mim nunca sentiste.
Atravessa-me sem que eu te possa ver
Para que nem eu saiba do que morri.
4.07.2006
Felizes para sempre
Sou uma criança que pensa em fadas
Em pós mágicos
Em abóboras voadoras.
Sou uma criança que acredita em fadas
Em sapatinhos de cristal
Em príncipes encantados.
Sou uma criança que fala com fadas
Sonha com bailes e não sabe que a vida não é um conto qualquer.
4.05.2006
O meu pensamento falha quando quero exprimir o que sinto
Absorvo o sangue do teu espírito.
As nossas mãos estão frias como se eu nos tivesse tirado a vida.
Mas o amor nunca morre. Só se esconde aqui no centro de mim.
Batalho como alguém que pensa conhecer a alma das coisas.
E como alguém que luta para recordar esse conhecimento.
Mas falta sempre o que não recordo.
Ganha-se a batalha e no chão soldados nossos mortos em morte paulatina.
Perco cem mil homens num só.
Exponho-me à carnificina por causa de ti.
És o meu homem abstracto.
Um ser inclinado que sorri do céu em queda livre.