7.09.2009

Wie Thomas Bernhard: Love-hate for Austria

Já vos falei da mania deles de apresentarem a pergunta antes de a fazerem. Eles dizem: Eine Frage, e blá blá blá. Pois, então agora falo-vos da mania de dizerem Achso! e que não, não são eles a espirrar. Significa: Ahhhhh, já percebo. Ora, eles dizem isso muitas vezes porque é complicado para cada um dos austríacos perceber o que o outro está a dizer. Isto porque para além de ninguém saber ao certo falar alemão, eles colocam os verbos no fim da frase. E as frases podem ser do tamanho de umas dez linhas. Quando o austríaco diz o verbo de acção que revela finalmente o que é ele foi fazer, o outro austríaco não tem outra resposta senão um Achso! (santinho) Pois, agora percebo, seria o que vocês portugueses diriam no fim da minha conversa toda se eu vos dissesse: Eu à cave da nossa casa com o meu namorado uns quantos tomates e uma Coca-Cola ontem ao fim do dia já escuro muito depressa porque amigos em casa tínhamos buscar fomos. O Achso viria naturalmente, e até com um certo alívio. Ninguém prendeu ninguém na cave, a cave também não foi o lugar onde a magia acontece, e finalmente entenderam que só lá fomos buscar uns inocentes tomates e uma Coca-Cola. Ufa. Mas há um outro perigo. Quando finalmente eles sabem o que é que se fez na cave, há grandes probabilidades de já não se lembrarem quem é que lá foi. E a minha frase é uma brincadeira de bebé, comparada com as deles.
Mas há outras coisas estranhas, por exemplo, aqui, a rapariga não é do sexo feminino ou sequer masculino. Simplesmente, não tem sexo. É neutra: das Mädchen. Mas a cenoura (die Karotte) tem já todo o direito a ser do sexo feminino. Penso que isso seja porque a cenoura é rica em betacaroteno, que é importante para a pele e para as mucosas. Outra coisa estranha é a ligação entre as mulheres e as raparigas sem sexo com a bicicleta. Para começar, todas têm uma bicicleta. Uma mulher aqui na Áustria sem bicicleta não é uma mulher. Quando eu não tinha bicicleta elas nem respondiam aos meus bons dias. E não era por serem xenófobas. E por bicicleta entenda-se a bicicleta com cadeado, cestinha, capa de selim, corrente, bomba de ar, capacete, cotoveleira, joelheira, e outras nhanhanheiras. Mas até aí tudo bem, o problema pelo menos para mim passa por andarem de bicicleta com mini-mini-mini-mini-saias, com a perna para cima, perna para baixo, perna para cima, para baixo, calcinha com renda, perna para cima, perna para baixo, cuecas da avó, para cima, para baixo, cima, baixo. Conto umas cinco calcinhas por dia, isto porque a maior parte delas usa. Mas há coisas piores. O Danúbio, o Danúbio Azul que deu o nome à valsa do Strauss, e inspirou tantos outros poetas, fá-los-ia regurgitar os últimos jantares em vida. Nos seus bons tempos, ao longo dos 110 km, da nascente ao poente, o rio recebia mais de vinte pequenos mas cheios afluentes. Hoje são fios de água e condutores de esgoto e outros detritos. Até os pobres batráquios desapareceram. Quando o Strauss passeava pelas margens do Danúbio em câmara lenta, porque na altura era tudo mais devagar, era comum passar-se por famílias inteiras em piqueniques e ver-se os putos a aprender a nadar nas águas então cristalinas. Agora ainda se vêem muitas pessoas, mas a apanhar sol na relva e uns poucos malucos como eu dentro do rio lamacento. Mas ou vou lá para dentro envenenar-me ou a opção é esticar-me na relva a apanhar um sol enevoado ao lado de pessoas que não conhecem o hábito de usar um biquini ou calções de banho. Meus amigos, por favor: Enfiem-me num avião de volta para Lisboa, ou metam-me numa cave!