12.30.2005

A vida eh assim

Quando não tinha dinheiro, tinha tempo de sobra para viajar. Agora que tenho dinheiro, falta-me o tempo para viajar.

12.29.2005

A água desenvolve um ciclo

O chamado ciclo da água é o caminho que ela percorre. A chuva, basicamente, é o resultado da água que evapora dos lagos, rios e oceanos, formando as nuvens. Quando as nuvens estão carregadas, libertam a água na terra. Ela penetra no solo (grande maluca) e vai alimentar as nascentes dos rios e os reservatórios subterrâneos. Se cai nos oceanos, mistura-se às águas salgadas e volta a evaporar, chove e cai na terra.
A quantidade de água existente no planeta não aumenta nem diminui.
Acredita-se que a quantidade actual de água seja praticamente a mesma de há 3 bilhões de anos. Isto porque o ciclo da água se sucede infinitamente. Não seria gracioso se o alimento que comemos ontem tivesse sido preparado com as águas que, tempos atrás, foram aproveitadas pelos romanos nos seus famosos banhos públicos?

12.27.2005

O quarto de um obeso

Um buraco na cama grande, feito ao longo dos tempos. Um homem obeso, que sofre de gula. O excesso do consumo alimentar, o desperdício. O consumismo. A obesidade tornou-se uma degradação, uma transgressão à lei da vida porque enquanto uns morrem de fome, este empanturra-se de comida. O único objectivo da vida do Carlos é comer. Comer muito e bem. Um prato enorme numa mesa que simboliza este homem que se confunde com a própria comida. Receitas de comida espalhadas por todo o lado. Fotografias de pratos de comida em todo o lado, em molduras. Comida, doces, sobremesas, todas meias comidas distribuídas aleatoriamente pelo quarto. Ao limite podíamos ter uma cama de chocolate, uma cómoda de baunilha, tapetes de natas. Roupas XXL atiradas ao acaso, umas no chão, outras nos móveis, porque a organização do quarto está posta de lado dado que o mote da vida deste homem é comer. Uma televisão, um sofá, e um tabuleiro no sofá, ainda com comida. Nódoas nas roupas de ketchup, mostarda e maionese, pedaços de comida a decorar o sofá e a cama. Carlos, nascido para comer. O quarto cheira a fritos, a comida.

O quarto de um anao optimista

O quarto do anão chamado Adão espelha a sua condição. A mobília, desde a cadeira, à mesa, ao sofá, é toda feita à sua escala. Menos a cama, mas esta tem umas escadas pequenas para que o Adão consiga subir e descer quando quer. O quarto está decorado com bonecos em miniatura e fotografias dos hobbits do Senhor dos Anéis, povo pequeno da Terra Média. Tem um poema exposto numa das paredes de Fernando Pessoa que diz, entre outras coisas “Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura”. Aqueles cheiros para interiores dos carros, mas postos no chão. Quanto mais baixa a pessoa estiver, mais facilmente sente o aroma.

O canto de um toxicodependente

Roupa suja no chão. Cama desfeita. Lençóis no chão. Uma mesa com vestígios de droga. Um limão cortado. Uma seringa. Uma colher. Várias carteiras abertas com documentos em cima da cama, vários telemóveis, pequenos roubos para alimentar o vício. Um espelho quebrado, porque ele não suporta ver-se ao espelho. Este homem não tem nome. A droga tirou-lhe também isso. O quarto cheira a limão.

O quarto de um padre comum

O Padre Afonso Deleite, como todos os outros Padres tem 3 inimigos da alma: O mundo, o diabo e a carne. O quarto está repleto de ícones religiosos, tem uma bata deitada na cama, branca, limpa e bem feita, a cruz de Cristo pregada na parede, a Bíblia, livros religiosos na cómoda e uma mala deixada aberta em cima da cama com conteúdos menos próprios: duas revistas pornográficas, fotografias de uma rapariga em roupa interior, um charuto cubano, erva, fotografias de carros luxuosos, cartas de póquer, uma garrafa de vodka, e um peluche. Este quarto cheira fortemente a álcool, ou a vinho.

A casa de uma maniaca compulsiva

Quando simples manias viram doença. Esta mulher de nome Frederica é maníaca compulsiva: obcecada, tem um excessivo zelo pela limpeza, sente necessidade de ter tudo sempre arrumado, organizado, simétrico. Obsessão. Fixação. Só usa uma vez as toalhas com receio de contaminações. As toalhas imaculadas, expostas. Os rituais são as verificações repetitivas e os receios a contaminação. Vive com o filho ainda criança e tem um medo obsessivo de o magoar tocando em objectos que o possam ferir. Todos os objectos pontiagudos, as esquinas dos móveis, têm protecção. O próprio espelho tem uma protecção plástica, o que o torna estupidamente inútil porque a imagem que reflecte é sempre baça. O quarto cheira a detergente, fortemente.

O quarto de hotel de um executivo

Caso lascivo entre um executivo e a sua secretária. A cama desfeita, peças de roupa espalhadas, quadros tortos na parede, um invólucro de preservativo rasgado e no chão, toalhas espalhadas, uma máquina de filmar no meio da cama, um espelho no tecto, marcas nas paredes das mãos da mulher, cheiro de luxúria no ar. Um anel na mesinha de cabeceira, perto do telemóvel, uma moldura com fotografia no chão. Uma lista pendurada no espelho de desculpas dadas à mulher do executivo para as suas escapadelas mórbidas, algumas já riscadas, usadas. O quarto cheira a mistura de dois perfumes intensos.

O quarto de um escritor psicopata

Egocentrismo patológico, anti-social, comportamento aparentemente tranquilo, falta de empatia com toda a gente, mentiroso, cínico, torturador de animais. Este psicopata é um escritor frustrado, que à falta de inspiração sai à rua à procura de vítimas, e constrói na realidade histórias para mais tarde descrevê-las no seu livro. Um psicopata é um egocêntrico patológico.
O escritor e psicopata Narciso Sarabulho, centrado nele mesmo, só leva em consideração os seus desejos, opiniões e interesses. O quarto vai reflectir a sua personalidade psicopata, frustrada e egocêntrica. Fotografias e recortes de jornal de histórias de assassinatos e desaparecimentos em que ele é o procurado. Tudo muito limpo, organizado, branco, a contrastar com a escuridão da personagem. Fotografias exaustivas dele, com o gato, com o peixe, poucas fotografias com outras pessoas mas estas cortadas, fotos de grupos mas colocadas na parede com outras fotos por cima a tapar as outras pessoas, espelhos por todo o lado, nas paredes, no tecto, no armário. Tem uma prateleira só com pedaços de cabelo e unhas. Recordações. E uma máquina de escrever.

Daltonico

O Pedro ate acha piada ao gene recessivo do seu cromossoma X que o fez nascer daltonico. Tem um poster do fisico John Dalton, tambem ele daltonico. O Pedro eh incapaz de distinguir entre o vermelho e o verde. Imaginem-no a guiar e a encarar os sinais de transito. Mas sente-se um homem de sorte, ja que o seu primo nasceu com a visao acromatica vendo apenas em tons de cinza, preto e branco. Consequentemente o quarto do Pedro eh uma mistura ebria de cores. Nada combina com nada. Mas nos armarios as roupas estao ordenadas de maneira cromatica. O problema surgiu quando a empregada do hotel, na maior das boas intencoes, resolveu arrumar a roupa de maneira diferente. Instalou-se a confusao. Por vezes, quando os empregados nao se lembram do nome do Pedro, ele transforma-se naquele senhor Piroso ou naquele senhor Estranho que anda com sapatos de cores diferentes. Ou no senhor Arco-iris, ou no Carro Alegorico. O problema agrava-se quando tem de escolher a linha do metro depois de lhe indicarem Va pela azul. Quando o Pedro era pequeno todos os lapis de cor tinham etiquetas com os nomes das cores. E imaginem um electricista daltonico. Ou um daqueles homens corajosos que desarmam minas e bombas.

Se as pessoas soubessem...

... que quando entram na queixa, na culpa, no sofrimento, baixam o teor das suas energias e se tornam alvos dos espíritos infelizes, nunca se deixariam levar pela tristeza.

12.20.2005

Sing from your heart

A boy sits with his brother’s head on his lap
because his baby brother is taking a little nap
sing one more song
but do not sing from the book
the pages might turn over
and once the pages turn
you will stumble on forever
and once the pages turn
you will find the wrong song.

Antes de mais...

Preciso entender porque é que faco determinadas perguntas. Mesmo antes de querer saber as respostas...