1.31.2010

Lembras-te?

Ficaram os dois com os lábios dormentes de tanto se beijarem.
Deliciaram-se com sardinhas assadas num restaurante minúsculo de beira de estrada.
Gritaram na noite, para a lua: Amo-te, amo-te mais, amo-te muito mais.
Ele passou os dedos na cicatriz dela, na barriga, e disse-lhe: Assim, ainda és mais linda.
Depois da sauna, nadaram nus no lago.
A primeira vez que os cabelos compridos dela lhe foram parar à boca por causa do vento, e depois se beijaram.
Ela disse-lhe: Não acredito em amor à primeira vista. Ele passou por ela mais três vezes seguidas e voltou a perguntar: E agora?
Gritaram na casa nova vazia, só para se ouvirem juntos no eco.
A primeira dor de parto, do primeiro filho.
A primeira vez deles na praia. E agora, o mar fá-los sempre sorrir por nada.
A primeira vez que ele lhe comprou um presente, e tiveram de devolver porque não lhe servia.
Foram ao cinema e não se lembram do filme que viram.
Ela foi visitá-lo à cidade onde ele vivia e quando chegou ele não a deixou sair do carro, porque não parava de a beijar.
A electricidade faltou na casa dela e eles foram para o carro ouvir música e falar de filhos, quando ainda nem eram casados.
Ele pediu-a em casamento e ela não disse nada. Ele leu-a entre silêncios e depois amou-a entre palavras.
Ele estragou a surpresa e a caminho de um concerto de música, ainda dentro do carro, disse-lhe que já tinha comprado o anel. Ela sorriu.
A primeira vez que ele pousou a mão no cabelo dela, e brincou com ele. E o Sol nascia.
A primeira discussão sobre quem devia ter guardado a manteiga, e como se riram depois.
No fim das férias de Verão, já com o dinheiro contado, jantaram num restaurante a caminho de casa, e qual dama e vagabundo, partilharam um prato de esparguete, até ao último fio de massa.