12.23.2010

Bom Natal

O Natal para mim é a minha mãe, o meu pai, a minha avó, os meus irmãos Bruno e Pedro e eu: juntos. Nunca foram os embrulhos debaixo da árvore, mas quem os embrulhou; nunca foi a árvore verde num vaso de terra num canto da sala, mas o meu pai que ia connosco comprá-la, depois de longos minutos a escolhermos a mais bonita; nunca foram as estrelas e os sinos e os embrulhinhos pequeninos que enfeitavam a árvore, mas a minha mãe que se esticava para chegar aos ramos mais altos, ou o meu pai que me punha às cavalitas para ser eu a prender a estrela cadente bem lá no alto. O Natal para mim nunca foi o presépio debaixo da árvore, mas a cola, e o musgo e o barro e os tecidos e o corte e a costura nas tardes dos dias que eu, a minha avó e o Pedro passávamos a construi-lo; nunca foram as músicas natalícias mas a nossa casa sempre cheia de música que o meu pai colocava para tocar na aparelhagem da sala e que me tirava da cama logo pela manhã, sem maus feitios. O Natal para mim nunca foram as comidas, o bacalhau e o peru, o bolo rei e as filhoses, a mousse de chocolate ou o quente e frio; mas a minha mãe ao fogão e a minha avó a amassar o pão, os meus irmãos a espetarem os dedos gulosos na mousse e a levarem com o não de quem impunha a razão. O Natal para mim nunca foram os muitos presentes que se ganhavam mas a cerimónia lenta de os desembrulhar interrompida volta e meia com beijos e gritos de abre, abre, abre! Mas a vida corre, as crianças crescem e as coisas mudam. E neste Natal, pela primeira vez, não nos vamos reunir todos; os meus irmãos vão passá-lo nas suas casas, com os seus filhos, e também eles iniciam esta tradição que para nós não é mais do que ter a família reunida. Este Natal não vai ser a minha mãe, o meu pai, a minha avó, os meus irmãos e eu. Mas está tudo bem. Apesar de não poder passar com eles, eu sei que eles sabem que são dos maiores presentes da minha vida.