11.28.2005

Deixo no papel palavras escritas por mim sobre ti

...quando o que eu queria era escrever no teu corpo o que sinto por ti.

11.23.2005

A ti...

Os meus limites são quase fluidos.
Nao me sinto espartilhada. Por quase nada.
Só por ti.
Só por ti.
Não estou imune a ti.
Não me sinto impermeável às tuas lágrimas.
Ou ao teu sabor.
E ele diz que sim. E eu contrario-o.
Encerro as pálpebras e mantenho-te aqui.
É uma inevitável proximidade. Compulsão.
Constrangimento.
Sou permeável a ti.

11.22.2005

Limitam-me assim o dia...

Mandaram-me para casa assim que cheguei ao trabalho. Trabalho infantil, dizem. Desmotivada, por não poder trabalhar hoje, saí. Gritei para chamar o elevador. Entrei no elevador e reparei que também não podia andar de elevador. Isso também me foi proibido hoje. Porque não estava acompanhada por um adulto. Saí do elevador e fui pelas escadas.

11.21.2005

Sao queridos, mas...

Tudo bem, vou fazer anos amanha... e? Todos os anos é a mesma coisa. Digo-lhes sempre para nao enfeitarem as ruas. E eles continuam a insistir nesta pompa toda, ja está tudo cheio. Só luzes e enfeites por todo o lado. É só o meu aniversário.

11.05.2005

Saudades

Saudades dos tempos em que passava tardes e tardes a construir o meu mundo de playmobil. Saudades dos tempos em que acordava e o meu único objectivo era brincar. Saudades dos tempos em que pensava que o mundo era todo cor-de-rosa. Saudades dos tempos em que pensava que o meu pai e a minha mãe dormiam na mesma cama, única e exclusivamente porque eram casados, e os casados dormem no mesmo quarto porque sim. Saudades dos tempos em que o meu único conceito de um casal era um homem e uma mulher. Saudades dos tempos em que não percebia o que queria dizer terrorismo. Saudades dos tempos em que comia cerelac. Saudades dos tempos em que brincava ao elástico, aos carrinhos, aos médicos, à macaca, às escondidas, à cirumba.
Eu também gostava de jogar Super Nintendo, e jogos de computador. Adorava o Autorun, mas o computador não era o meu melhor amigo. Saudades dos tempos em que chegava a casa com o joelho todo lixado terceira vez na semana. Agora as crianças já não chegam com os joelhos lixados a casa. Chegam com os dedos inchados de tanto jogarem game boy.

11.04.2005

De costas voltadas à razão


Não te vejo mas o meu ouvido satisfaz-se
E o meu corpo contrai-se em desejo dissimulado
Em prazer inacabado dou-me a ti
E porque quero mais, abraço a loucura

Entramos neste caminho de olhos vendados
Arremessando o cérebro ou pousando-o de parte
Neste embate de forças contraditórias que se convidam
Que querem, não querem

E novos astros acordam apenas para repetir o que já foi feito
Entregando as consequências aos novos e as críticas aos velhos
Porque tenho fome de ti. Porque és vício. Porque és vidro
Porque sou frágil. Porque sou crente

Abre-se a porta e quero invadir sem atentar
Paulatinamente saborear-te sem pensamentos ou apertos
Deixar-me sair, deixar-me correr e escorrer
Atingidos naquele ponto delicado e gentil do teu peito

Nessa madrugada choquei com a loucura quando te aceitei junto de mim
Sem consciência abraçámos de vez a demência
E porque me corrompeste, quando alguém expirar em casa
Enfio o corpo no carro e digo que morreu a caminho do hospital

Escrevi-te em mim dolorosamente cravando-te na minha pele
Espalhando o preto do teu lápis pelo meu corpo branco
Destruindo a minha pele com riscos teus
Porque tive estupidamente fome das tuas vírgulas, dos teus sinais

Lamentavelmente pintei-te em mim com cores inconscientes
E o Céu tornou-se mais anil e mais assustado
Agora choro um passado escrito impossível de cancelar
E nestas horas é bom ser-se valente

Profundamente eu sei, sim sei
Teria sido mais fácil explicar a uma criança a trajectória
de quem morreu injustiçado, a ter-te resistido
Mesmo os bons artistas sucumbem.
Mesmo os bons artistas sucumbem.

11.03.2005

Se tenho o teu amor...

Apenas dá-me a tua luz. E não te peço mais nada.
Apenas dá-me a tua alma. E não te peço mais nada.
Apenas dá-me o teu corpo. E não te peço mais nada.
Dá-me o teu amor. E não preciso de mais nada.

Vejo-te no escuro


A nossa pálpebra é a linha da separação e da distância. É o olhar que nos mostra que estamos longe, ou nunca demasiado perto. De olhos fechados sentimos quem amamos. De olhos fechados o nosso tacto investiga o que sentimos, e o tacto é a proximidade, é o calor. O olhar afasta. O toque reúne. Por isso é que em determinados momentos fechamos os olhos. Desligamos a visão e abrimos portas aos outros sentidos. À noite fecho os olhos e encontro-me contigo.

O inferno de nunca ter amado

Uma vez um amigo caracterizou-me dizendo que o que mais recordava de mim era o meu relativismo absoluto do Mundo, a favor do amor. Para mim é tudo o que importa. É o que nos preenche, e o que levamos connosco quando morrermos.
Amar. Amor. Amo-te. Palavras que sabem bem quando as pronunciamos, quando as sentimos. A nossa boca insurge-se, sente prazer ao abrir-se, os lábios encontram-se quando deixam sair as palavras, e os ouvidos deliciam-se com a fonética. Sabe-nos bem dize-las. Ouvi-las. Na cama, ao acordar, ao adormecer, enquanto estamos os dois bem acordados. Sabe bem ouvi-las no supermercado, na fila do autocarro, num telefonema a meio da tarde. Um dia de chuva é bom porque amamos e somos amados. Tudo é melhor. Mas ainda assim há pessoas que receiam amar. Cobardes aqueles que nao amam por medo de chorar. Benditos os que choram por amor. O inferno é nao saber amar.