Ao vinho
Dizem que nasceste por acaso
Talvez por uma mão-cheia
De uvas esmagadas e esquecidas
Dizem que és da cor da terra,
Da rosa e do sangue
Que tens a cor da noite e também a do dia
Dizem que moves os homens
Que apressas a Primavera
E que foste tu quem inventou a alegria
Encontra-te comigo hoje
E à luz de uma garrafa
Vamos dar a palavra aos pensamentos
Na próxima noite é a lua que nos procura.
Não tragam flores que eu sofro
No dia em que morreste
Morri eu também a olhar para ti
Meti-me para dentro de mim
E fechei a janela
Os meus lábios sabem-me a antigo.
Nem na morte espero dormir
Vou andar pelo Mundo
Qual cadáver acordado
Porque me culpo
Os meus lábios sabem-me a antigo.
Acendo um cigarro
Se bem que não fumo
E a minha boca velada
Não dirá nada
Os meus lábios sabiam-me a antigo.
Sou feliz agora morta
Longe dessa prisão fechada
Que era o Mundo sem ti.