A Lei do Eterno Retorno
E se um dia ou uma noite se alguém se esgueirasse na tua mais solitária solidão e te dissesse: Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes. E não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande na tua vida há de retornar a ti, e tudo na mesma ordem e sequência.(Nietzsche, sobre o eterno retorno)
Hoje lembrei-me do eterno retorno. E porque nenhuma das leis da sabedoria oculta é mais mal interpretada do que a lei do Eterno Retorno, achei que devia lançar o tema aos crocodilos. Tão feio, Sofia, chamar os teus leitores de crocodilos. Achei então que devia lançar o tema aos meus queridos leitores. Muito melhor.
Podemos cair no erro de pensar que a lei do eterno retorno significa que os mesmos eventos regressam no tempo, ou que se ficam a repetir eternamente, indefinidamente. Não.
Significa que a eternidade abarca o tempo, e o passado todo e o futuro todo estão contidos no momento eterno. No agora. E por isso, torna-se natural que os padrões das coisas passadas se mostrem no presente, ciclicamente. Os padrões, não os acontecimentos. E frequentemente as personagens trocam de lado, por exemplo, se uma dada altura os romanos invadiram os países bárbaros, noutra altura fora invadidos pelos bárbaros visigodos, experimentando o mesmo tipo de terror, quando foram saqueados e assassinados. Experimentam os mesmos efeitos das acções que produziram noutros.
E onde isto vai parar, dilectos amigos? À lei de ouro comum a todas as religiões, mas praticamente nunca respeitada: Não faças aos outros o que não queres que te façam. Porque todas as energias que libertarmos voltam para nós como um boomerang. Vermelho, porque é a minha cor preferida. Na verdade, todas essas leis fundamentais do universo estão interligadas, para mim. A lei do Karma, dos Ciclos, por exemplo.
O que se passa é que, nesta visão, cada pessoa traz gravado em si, tudo o que fez e o que deixou de fazer no passado, todas as alegrias e sofrimentos passados, que se mesclam com o futuro. O que forma o presente é a maneira como o passado se desdobra e produz eventos. E ao extremo, podemos dizer que conseguimos alterar o passado. A maneira como reagimos ao passado, e o que aprendemos com ele faz com que possamos alterá-lo. Não os factos, mas os padrões. Não podemos mudar os factos passados, lógicamente, nem podemos impedir que os padrões do passado voltem e afectem nosso presente. Mas como o passado está contido no presente eterno, ao mudar o presente, estamos a acrescentar algo novo a este passado e então, de alguma forma, mudamos o passado, ao modificarmos esses padrões no presente. Ao fazermos isso, mudamos também o futuro. Grande mistura de livre arbítrio e determinismo, não? ;)
11 Comments:
Ainda bem que me esclareceste sobre isso do eterno retorno rapariga,pq sou demasiadamente preguiçoso p/ ir informar-me,e no teu blog não sei porquê leio tudo facilmente;) mtas beijokas girlie
Nietzsche ilustrou um ponto curioso do eterno retorno, perguntando: «deveremos deitar o nosso vinho mais precioso ao mar? O meu consolo é que tudo o que foi é eterno: o mar devolvê-lo-à.»
É verdade que a metáfora é feita com vinho e não com Coca-Cola, e na minha opinião só fica a perder por causa disso.
Mas a parte interessante é que não é o gesto, a coisa que se repete, mas sim a experiencia, a vida.
O mar devolve o que é afirmado... e é por isso que ele sempre te sorri de volta, Sofia.
O que me parece que Nietzsche quer explicar é a passagem da ‘ratio cognoscendi’ à ‘ratio essendi’, como diria numa das suas aulas o professor Eduardo Prado Coelho, também conhecido carinhosamente em vários círculos por ‘Almôndega Peluda’. Ou seja, o eterno retorno é sempre do positivo, daquilo que se afirma, da criação do homem novo e da vida nova. É a transmutação da dor em alegria, é afirmar a vida e não a depreciar.
Procure-se pois esse turbilhão que limpa a alma... quem sabe não vem disfarçado de caixa de cerejas...
Adoro o que tu escreves (sl).
Deixas-me sem palavras.
Beijinhos.
um sorriso para ti sofia... see you soon! :)
Gostei muito do post, Sofia.
Há uma frase que, não sendo "the real thing", tem um pouco a ver com isto. Diz que quem esquece a História, está condenado a repeti-la. Eu digo que quem não a esquece - e uma vez que ela tende a regressar em ciclos ;) - tem a possibilidade de a reescrever, noutro contexto...para melhor. Isto é tão válido para os grandes acontecimentos mundiais como para os acontecimentos das nossas vidas.
No seguimento da Lei do Eterno Retorno, I'll be back! ;)
Bjs
Ehehehehe, João. Até à próxima. Ciclicamente.
:)
Beijos.
Portanto, se o Brasil já foi 5 vezes campeão do mundo, agora é a vez de Portugal.
Acredito plenamente naquilo que tu disseste Sofia. Nós somos um agregado de experiências passadas, de vidas passadas.
Para quem quiser ler sobre o assunto, têm:
Brian Weiss, Autor
Pergaminho, Editora
"Só o Amor é Real", "Muitas Vidas Muitos Mestres", "A divina Sabedoria dos Mestres"
http://www.brianweiss.com/
Eu li estes 3 e são fabulosos.
Sofia, lê o "Só o Amor é Real", é lindo.
É um dos livros da minha vida. Só o Amor é real, o Menino de Cabul, e a Insustentável leveza do ser.
:) Aconselho e aconselho. :)
Beijinhos, italiano Rodrigo.
grande nó, o "eterno retorno".
acho que o retorno é uma vantagem na vida de quem tem memória.
é como uma segunda oportunidade de viver melhor um momento, uma situação, um padrão, como chamaste.
porque há sempre uma maneira de viver ainda melhor.
infelizmente não há retornos para muita coisa que dizemos e fazemos.
e há padrões que quando retornam trazem ainda o passado agarrado.
trazem para hoje o que supúnhamos, erradamente, que era ontem.
e ai, mudamos o passado. porque passou a ser presente. e logo, futuro novamente.
"Grande mistura de livre arbítrio e determinismo, não? ;)"
...Interpretar o que esses malucos (Shopenhauer, Nietchz...) escreveram é possível, mas não é preciso (de precisão). Só é preciso ser maluco também. Tanto que cada um deslanchou suas teorias pensando ter entendido os escritos dos outros; os outros que, por sua vez, lucubraram sobre a tal da coisa em si. Mas é a tal coisa: que é a "coisa em si"? Para mim, a teoria do eterno retorno é a própria discussão sobre a mesma matéria: o pensamento. Ora, só pensa quem tem consciência, característica do homem enquanto em vida. Morreu, acabou. É como se, quem morreu, nunca tivesse existido. Então, por que tanta discussão? Sou niilista.
claro que concordo em número, gênero e grau com a maioria dos comentários. penso, logo existo ou existo, logo penso? quem me afirma que a existência não passa de mera afirmação em cima do nada absoluto?
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