5.29.2006

Aromia Moschata, da família das Longhorn Beetles


Tirei o Sábado para ir com o Lobo Antunes até à Riviera – a minha praia. Estava um calor daqueles que nos obriga a estar sempre a rodar tipo espeto na brasa. Tirei o carocha da garagem e fui a vinte à hora até à praia. No bar da Riviera comecei a ser causticada por pintas pretas em todo o corpo que depois de analisadas atentamente por mim, se transformaram em insectos pretos e peludos. Não me considero uma miúda da cidade mas quem me conhece sabe também que não sou um bicho do mato, por isso apercebi-me que o melhor para mim e para os bichos era um de nós mudar de lugar. Eles não se sentiram incomodados comigo, por isso, respeitei o ditado popular e mudei-me. Peguei na mochila, na toalha amarela e no Lobo Antunes e fui para a areia terminar de comer o hambúrguer com batatas fritas. Saudável, sentei-me na toalha e em poucos segundos a toalha ficou preta com as mil patas de cada insecto. Enojada, sacudi-me e despi-me, como se estivesse atrasada para nascer, e nos meus mil-pés fui a correr para o mar. Mergulhei, nadei debaixo de água e vim à tona no local errado. Ia esbarrando com um cachalote. Tinha uma boca com dentes numerosos e bem desenvolvidos na maxila inferior e poucos ou nenhuns na superior. Quando voltei à toalha, já não havia hambúrguer para ninguém, já tinha deliciado os animais invertebrados da classe insecta, essa família com membros versáteis e diversificados, que quando reunida são mais do que todos os outros grupos de animais juntos. Para onde quer que olhasse no meu corpo via esses energúmenos superorganismos. Assemelhei-me a uma estância balnear no Algarve em pleno Agosto. Resolvi saltar do barco e mudar-me outra vez. A toalha, antes amarela, abandonei-a à sua sorte. Disse-lhe, Vira-te. E fugi para o estacionamento de terra, a perguntar-me se os bichos existiriam mesmo ou se seriam proveito da minha imaginação maléfica, porque mais ninguém parecia dar conta dos pontos pretos voadores. Depois de ter dado umas moedas ao velhote que nos costuma habilmente ajudar a encontrar um lugar perfeitamente visível, não resisti, olhei para todos os lados e vendo-me sozinha, decidi-me e perguntei-lhe, como quem não tem muito interesse na resposta nem duvida se estará a alucinar, Diga-me uma coisa, consegue ver estes bichinhos aqui? E ele tranquilizou-me quando disse, São insectos minha menina, não se preocupe, são só insectos. É do calor, é do calor. Ainda estou para perceber porque é que a partir de uma certa idade nos tornamos repetitivos. Será surdez ou amnésia? Será surdez ou amnésia?
Estive uns quantos minutos a sacudir-me agressivamente, e entrei no carocha. Fui para a praia do Castelo, cujo nome me faz sentir estupidamente segura. Trouxe o Lobo Antunes perto do peito, e levei a toalha vermelha que trago sempre no carro, qual pneu sobresselente. Na praia, deitei-me, levantei-me e fui novamente a correr para a água. Estive duas horas seguidas em pé na água, a tremelicar, e a sacudir-me dos insectos que pareciam confundir-me com mel. Ainda levei um ou outro piropo primário dos banhistas, cujos camiões estavam mal estacionados perto da praia, e que me disseram por duas vezes, pecando na originalidade, Sabe, é que a menina deve ser muito doce. Contrariamente ao que se espera de uma praia com o nome de Praia do Castelo, não vi príncipes encantados, só sapos com verrugas e novamente uns quantos cachalotes com fios de ouro pendurados ao pescoço e tatuagens a louvar as mães facilmente confundíveis com nódoas negras. Não vi príncipes, vi apenas um rapaz a ler a Bola, outro a ver a Maxmen, um homem a rodar o piercing do mamilo. Do dele, vá lá. Vi uma cachalote femea e velha a fazer topless de fio dental harmoniosamente bem escondido entre as peles. Um rapaz de uns 20 e poucos anos a ser barrado com creme protector nas costas, nos braços, na cara e no peito, pelo pai. Vi de tudo, só não vi um único príncipe. O Lobo Antunes também não ficou muito contente com o dia de praia na Caparica, porque eu tinha lhe dito que estaria horas deitada, com o meu biquíni vermelho a comer com ele os bolinhos que acabei por não levar à minha avó, lendo-o de um lado ao outro, e o coitado do Antunes acabou por passar o tempo todo na areia, sozinho e varrido pelo vento, pela areia e pelos insectos.

29 Comments:

At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

Entretanto passa uma efémera a falar com um cão... "Sabes que entrei num reclame da Vodafone?".


Ahaha...

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

E diz o cão "Eu cá vou ter um osso pelo natal..". Ao que a efémera responde "e..? Que tem isso de especial?". E o cão a rir diz "Para ti nada, tu não chegas ao Natal..."

Ahahaha...

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Blogger Z said...

Se eu escrever um post sobre animais de quatro patas que ladram, presumo que me falarás de insectos :P

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

efémera/efemérida - design. comum aos insetos da ordem dos efemerópteros, que constituem importante item alimentar para muitos peixes de água doce; aleluia, besouro-de-maio, borboleta-de-piracema, efêmero, siriruia, sirirujá [Os adultos possuem peças bucais rudimentares, não se alimentam e vivem ger. de um a dois dias.] :P

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Blogger Z said...

Ahahaha, boa. E aposto que tem uma esperanca de vida efémera, também. Daí o nome?

Ah, acabei de ler o teu comentário.
Sou tão impulsiva. :)

Que giro, sem querer ofender susceptibilidades, quando disseste efémera, pensei numa top model.

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Blogger Luísa Santos said...

posso estar com uma tensão de canário mas com vontade de voar para bem longe que, ao ler o teu blog, fico presa. e como não ficar? obrigada pela gargalhada, mana :)

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Blogger Z said...

Ahahahaha... Obrigada pela minha gargalhada ao ouvir a tua contagiante. E já agora, obrigada por seres quem és. Continua a sorrir. Nunca mudes. Ahahahaha... ;) And so on... and so on.

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Blogger Sérgio Mak said...

Parem, já estou a chorar que nem uma Madalena, nome q nao me assenta condignamente....

Pior do que mosquitos, só mesmo os camelos que muitas vezes infestam as nossas praias, certamente atraídos pela areia abundante...

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

E, no entanto, que maravilha é essa a de Lobo Antunes, que está contigo mesmo quando despojado na areia, entregue sozinho à bicharada...

Pois não tem todo esse desencanto uma familiaridade céliniana que Antunes tanto reedita?

Não relembra até o teu episódio quando ele maldiz a miséria de possuir um jardim zoológico completo de formigas, melgas, traças, aranhas que presume alimentarem-se da mesma falta de comida que ele?

E esses dissabores da comédia humana, a revolta pela ‘cultura do sovaco’ - embora, verdade seja dita, nunca o tenha ouvido chamar cachalote a ninguém :)?

Não será também que, como ele próprio gosta de dizer, citando Thomas Mann, o que faz de ti artista é o amor pelo banal?

Será por isso que, mesmo numa prosa de momentos banais, fazes a poesia abraçar o substantivo?


Será por isso enfim que, como também ele diz, a única forma de abordar a tua escrita é apanhá-la do mesmo modo que se apanha uma doença? :)

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

Eu no Sábado fui ao casamento da minha prima mais velha, que tem menos um ano que eu. E devo dizer que o momento em que entrou a minha prima mais nova com o irmão do noivo, começou a tocar uma música (Carnalismo - Tribalistas) que se prolongou até entrar a minha prima com o meu tio a levá-la ao altar improvisado à porta de uma capela numa quinta... foi dos momentos mais lindos que presenciei em toda a minha vida... fiquei comovido por ser a minha prima a casar, por estar linda, pelo noivo estar lindo, pela minha prima mais novinha estar linda, por estar tudo tão infinitamente belo acompanhado por aquela música que parecia vir dos deuses... (vem de uma sereia, é perto) e por gostar tanto dos dois, foi divino. Arrepiante... fico tão contente por me terem roubado aquela música para eles, para mim, deixou de ser uma música num disco, passou a ser a música em que os vejo lindos (estou à rasca a escrever isto... :.)) um com o outro. Poucos momentos conseguem roubar, no bom sentido, músicas, e fico tão feliz por este. Acho que não lhes vou conseguir dizer isto sem desatar a chorar ehehhe, mas tenho que lhes dizer, quando voltarem da lua de mel.

Carnalismo - Tribalistas
letra: Arnaldo Antunes

No rastro do seu caminhar
No ar onde você passar
O seu perfume inebriante
Pendura o instante
A rua inteira a levitar
Me abraça e me faz calor
Segredos de liquidificador
Um ser humano é o meu amor
De músculos de carne e osso, pele e cor

O que é que isto tem a ver com a Sofia? -> De noite íamos sendo comidos por melgas e mosquitos hehehe, a minha mais que tudo teve as perninhas a fazer de almofada de alfinetes de mosquito :) Deve ser de as meninas bonitas serem docinhas ;)

Beijinho,
Hugo
(já nem digo nada em relação ao Hi5, fico à espera até cair para o lado:P) ehhehe

 
At segunda-feira, 29 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

AH AH efémera tb pensei logo em modelo (sem nada na cabeça, vazia), malditos estereotipos, mas dps axei estranho, uma modelo a falar com um cão! =)

A menina é muito doce, a menina é muito doce =P

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Blogger Z said...

Um beijinho para o Mak, o Madaleno. ;)

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Blogger Z said...

Hugo, seu comovido, como estás? :P
Espero que eles vivam sempre em lua-de-mel ;)
Beijinho grande.

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Blogger Z said...

Landsmann (sl), o que fazes para sobreviver? Em que trabalhas?

;) Eu amo até as pedras ;)
Por acaso tenho de ler esse livro dele.

Esse brilhante escritor Alemao que citas também disse que a beleza, como a dor, fazem sofrer. E eu gosto das duas coisas, em última análise, porque me impelem a escrever.

Ah, e a Alemanha, by the way, vai à final com o Brasil.
:P E vai perder.

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

Na verdade, mais rapidamente sou teu compatriota brasileiro que alemão...

Para trabalhar eu olho o mundo, penso-o e escrevo-me.

Para sobreviver, como já deves ter percebido, leio o teu blog :)

P.S. Já percebi o teu distanciamento aos mails, hi5 e afins... mas há um agradecimento particular que precisa de ser feito e, se houve coisa que a vida me ensinou, é que as coisas importantes nunca devem ficar por dizer.

Beijo

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

"Fábula da top model e do mosquito"

O mosquito vem no ar, zig zag, zag zig.. pousa no ombro da top model e diz: tens hi5?

A modelo ri perdidamente e responde entre gargalhadas: morde aqui a ver se eu deixo, morde..


Ahaha...

 
At terça-feira, 30 maio, 2006, Blogger Z said...

E se a modelo lhe respondesse à pergunta assim:
Dá cá mais cinco, ó mosquito.

 
At quarta-feira, 31 maio, 2006, Blogger Z said...

Sl, já fui ao mail. :)
Beijinhos.

 
At quarta-feira, 31 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

E eu já te respondi :)
Um beijo.

 
At quarta-feira, 31 maio, 2006, Anonymous Anónimo said...

Este post acabou por ser uma promoção às praias da Caparica. Vá confessa. Não tenhas problemas porque os "cachalotes" embora saibam ler, não conseguem utilizar o pc para aceder à net. É que um só dedo pressiona umas quatro teclas.
Voltando às praias da Caparica... eu sei que aquilo tem andado meio fraco por lá. Temos todos(as) andado pelo Guincho ou Carvalhal, mas é desonesta a do bikini vermelho combinado com a pesquisa de príncipes. É chato. Estamos a meio da semana e ninguém está preparado para este marketing tão agressivo. Queremos que chegue já o próximo Sábado, para tirar a nossa melhor tanga de licra, lilás, e lá vamos nós à Costa, para entrar no concurso.

Agora a parte má deste comment... é que não me lembro como o terminar. Tinha até umas boas ideias, mas perdi tempo demais a rir com a Srª das peles do fio dental. Next time...

XX J

 
At quarta-feira, 31 maio, 2006, Blogger Z said...

Eu trabalho em publicidade. :)
Mas por acaso não foi minha intenção provocar um aumento do número de cachalotes com fios de ouro pelas praias da Caparica. ;)
Muitos beijos, J.

 
At segunda-feira, 05 junho, 2006, Blogger JOÃO said...

Bem, pelo menos o carocha não se deve ter sentido sozinho porque encontrou muitos amigos insectos. :)

Já agora, deixo aqui uma palavra de desagrado (nem acredito que disse isto) para com as pessoas que fazem da praia um espaço de tudo menos de paz! Gritos, bolas, rádios, fumícios de estupidofacientes... Já que irão haver multas para quem tomar banho com bandeira vermelha, então que sejam revistas outras coisas também.

Beijinhos Sofia :)

 
At terça-feira, 06 junho, 2006, Blogger Z said...

Beijo, João. :) O Carocha curtiu muito o dia de praia. :) Tanto que foi abaixo quatro vezes, não queria ir embora. :P

 
At quarta-feira, 07 junho, 2006, Anonymous Anónimo said...

Mas a culpa não foi do carocha, pois não? Confessa! :P
XX, J

 
At quinta-feira, 08 junho, 2006, Blogger Z said...

Pois não, foi tua. Apesar de nunca te ter conhecido, presumo que sejas um grande nabo :P
;) XX, S.

 
At sábado, 10 junho, 2006, Anonymous Anónimo said...

Nabo não diria. Um grande palerma talvez. :)
I'm out for Iceland. Loucura!!!!!
99er over and out.

 
At domingo, 11 junho, 2006, Blogger Z said...

Vais ver o jogo? :P
Beijinhos.

 
At terça-feira, 20 junho, 2006, Anonymous Anónimo said...

Back from Iceland. Estou a ver que o post do mundial da Alemanha está ao rubro. Por isso escrevi aqui. Neste dos bichos, que é para quem não percebe de futebol. :)
Ísland (na língua local) recomenda-se. Muito!
XX, J

 
At terça-feira, 20 junho, 2006, Blogger Z said...

Bem vindo. :) XX, S. ;)

 

Enviar um comentário

<< Home