Quando eu morrer
Normalmente chegava poucos minutos antes das aulas e os meus passos pequenos e apressados percebiam-se pelo barulho que faziam nos degraus de pedra. Subi e desci aqueles dezoito ou dezanove degraus tantas vezes. Quando subimos assim tantos degraus e tão frequentemente, temos tempo para pensar em tudo. Uma vez pensei num cemitério. Pedras brancas e frias em cima da terra onde os nossos corpos e as nossas células perdem a memória e caem, deitadas, no eterno esquecimento. Não gosto que me brindem com flores. Oferecer flores, para quê? Lembram-me a morte. Recebemos a flor, para depois colocá-la no seu túmulo. Enchemos o jarro com água, como se quiséssemos prolongar o sofrimento da flor. Com um sorriso ingénuo espetamo-la no jarro onde ela irá em pouco tempo definhar. Prefiro contemplá-las num jardim fresco e florido, qual paraíso. Descia as escadas e pensava frequentemente que quando morresse não queria ser deitada num cemitério. Não queria flores. Não quero choros.
3 Comments:
eu tambem não. Gostava que as pessoas fizessem uma festa e se divertissem.
Sou completamente crente na descrença, que é como quem diz, sou ateu convicto. Odeio funerais, com ou sem potes. Para sofrimento, prefiro o pote do euromilhões que teima em não vomitar os (meus) números mágicos. Mas percebo o que querem dizer quando dizem que não querem choros...assim como percebo as lágrimas de quem, tal como eu, chora nesses momentos.
Provavelmente tudo aquilo que nos rodeia é sinónimo de vida e nunca de morte, pensa que a pedra que pisaste tantas vezes foi esculpida e moldada por alguém que dedicou a sua vida a fazê-lo, ainda bem que a água que enche o jarro existe porque sem ela a vida não existiria e quanto às flores, são sinónimo de alegria e felicidade, sentimentos que só se consegue ter quando se está vivo. Eu pensaria, em vez da morte, na vida que tudo o que me rodeia, me transmite, temos que a aproveitar enquanto ela dura porque, infelizmente ela é muito curtinha.
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