3.20.2006

Ouves-me?

Move-te
Faz alguma coisa
Como a água da chuva que ansiosa se precipita
As minhas palavras correm e juntam-se ao rio
E passam por ti sem te regarem
Mas como posso eu pedir que tenhas consciência
Quando não passas de uma bela estátua grega e fria?
Pensar-te é o meu defeito

Move-te
Faz alguma coisa
Imobilidade mórbida de um desmembramento insano
Receber-te em mim é a minha sede
Fixo o olhar em ti e resolvo deixar de respirar
Para me concentrar em ti
Mesmo morta
Olhar-te é o meu vício

Move-te
Faz alguma coisa
No canto do nosso quarto erguem-se pirâmides
A terra rasga-se e elas crescem intrometidas
Desvio-me delas pontiagudas para tentar manter-te sob a minha égide
Neste espaço labiríntico que nos divide
Por entre os prantos os risos e os vícios do Egipto

Move-te
Faz alguma coisa
A mágoa chora na noite triste quando me lembram de ti
Esconjuro-te estátua, porque não ardes
E ao mesmo tempo não te ausentas de mim.
Erva daninha.
Que cresces quando já te pensava esquecida.

10 Comments:

At terça-feira, 21 março, 2006, Blogger JOÃO said...

Muito bom Sofia. Muito bom mesmo. Adorei. Beijinho grande :)

 
At terça-feira, 21 março, 2006, Blogger Z said...

Beijinho grande. ;)

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

Nunca pensei vir a ver este poema escrito. Ainda bem que o escreveste! Penso que seremos sempre capazes de nos ausentarmos das estátuas e de queimar as ervas daninhas...nem que seja preciso irmos surfar mais vezes:)!

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Blogger Sérgio Mak said...

Há a forte possibilidade de a estátua ser surda, já que falas, falas e ela niente...

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Blogger Z said...

Isto aconteceu-me uma vez, numa loja que vende sapatos (mais comummente chamada de sapataria). O corredor era estreito e os sapatos estavam dispostos de uma maneira aterradora dos dois lados, e apontados para mim. Eu tentava passar para a outra ponta do corredor e um casal no meio, atrapalhando a minha passagem, olhava demoradamente umas botas.
Eu disse: Desculpem.
Eles não se moveram (não, não eram estátuas) e eu insisti: Com licença.
Nada.
Desesperada: Podiam dar-me um jeitinho?
Eles olharam para mim, e desviaram-se.
Eu passei e comentei com uma amiga: Surdos...
Em desaprovação olhámos para eles, que agora falavam na linguagem gestual.

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Blogger Z said...

Gqr, espancar as ervas daninhas com a prancha de surf. Sem dúvida. ;)

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

Não julgues as pessoas à primeira vista. Na melhor das hipóteses elas têm sempre uma boa razão para o seu comportamento; embora raramente seja assim.... Há um (novo) ditado que diz "se te passam à frente na fila do pão, é porque têm uma boa razão"...deve ser um ditado egípcio, foi um gato que o escreveu ;) claro que , infelizmente, só se aplica a certas pessoas....
bj

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Blogger Z said...

;) Beijinho.

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

Já comecei a escrever este comentário vezes e vezes e volto sempre ao princípio. E derrepente percebi. Há palavras que nos conseguem deixar assim - sem palavras.

 
At quarta-feira, 22 março, 2006, Blogger Z said...

:) Jim :)

 

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