Simpatia portuguesa
Ontem sentei-me numa mesa para comer uma picanha. Tinha chegado finalmente a hora de almoço, a minha segunda parte favorita do dia. A primeira é depois do dia de trabalho. Estava a dar um jogo qualquer de futebol e 20 rapazes corriam de um lado para o outro a disputar uma pequena bola de xadrez. Os talheres faziam barulho e volta e meia arrepiavam-me. Há pessoas que em vez de cortarem a carne, preferem escrever nos pratos com as facas. Arrepio-me tanto que chega a doer. O empregado veio e perguntou-me se eu já sabia o que ia pedir. Eu disse que queria a picanha. Com o que, pergunta-me ele. E eu, Com o que? Com tudo a que tenho direito, disse com um sorriso e os olhos a pestanejar exageradamente. Ele sorriu e foi-se embora. Para a cozinha, julguei. Eu abri o livro O Menino Alemão na página 33 e continuei a ler. Quando estava na 34, o mesmo empregado volta e pergunta-me se eu já sabia o que queria pedir. E eu esbugalhei os olhos e repeti, especificando, Picanha, com linguiça, arroz, banana frita e feijão preto. Acrescentei Por favor e o empregado partiu para a cozinha. A picanha chegou e eu ataquei-a. A meio da matança, o empregado voltou a aparecer para saber se estava tudo bem e eu disse, Está tudo óptimo, obrigada. Cerca de 2 ou 3 minutos, apareceu de novo e voltou a perguntar. E eu voltei a repetir, já com o sorriso a esmorecer. Procurei com os olhos a parte do livro onde eu ia, e li de novo a frase. Para a próxima vez, tencionava lamber os lábios, fechar a mão com os dedos juntinhos e levá-los à boca e soltar um beijo com um Mamma mia, apesar do restaurante não ser italiano, só para ver se o simpático empregado me deixava em paz com o meu livro. Mas não foi preciso. Não me interrompeu mais. Lá fora, o céu chorava, porque o Verão tinha acabado, e eu terminava a refeição já a blasfemar o relógio que me faria voltar ao trabalho. O empregado veio perguntar-me se eu queria sobremesa e eu disse Não, obrigada, só a conta. E depois um minuto ou isso depois voltou a perguntar-me se eu quereria mais alguma coisa e eu repeti, Só a conta. Achei muito estranho com tantos clientes o restaurante só ter dois empregados: uma rapariga gordinha com ar de cozinheira, e este rapaz tão aborrecidamente atencioso. Como é que podem eles sozinhos dar conta do recado? Ele trouxe-me a conta e eu paguei. Depois esperei pacientemente o troco. E foi aí que percebi tudo, quando vi os 3 empregados ao mesmo tempo na sala. Afinal, o empregado não era demasiado atencioso nem sofria de amnésia. Tinha só um irmão gémeo.
7 Comments:
tu que blasfemas o relogio pelo tempo que te tira
e eu que secretamente lhe agradeço por parar o Tempo cada vez que te leio
olhos esbugalhados de menina com mais voz de mulher
cresceste Zofia!
mas continuas a parar o meu Tempo
sigo-te (e)ternamente
até porque esperar por ti é apenas um segundo
(risos) e os gémeos estavas vestidos de forma idêntica? (risos) por segundos cheguei a pensar que a insistência era a ver se lhe pedias o numero de telefone (+ risos)
fartei-me de rir... as vezes dava muito jeito ter uma gémea :)
Um beijinho
Eduarda
Be in ♥ love
Sim, os empregados estavam vestidos com a tshirt do restaurante, e calcas pretas. :) fui completamente enganada ;) beijos a todos.
já nasceste ou ainda estás á espera? :) os empregados só podiam ser iguais :)
por mero acaso conduzes uma viatura citroen c3?
devia ser uma sosia...
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