9.20.2005

Escrevo porque sim...

Há muito tempo que não escrevo aqui. Para mim. Para vocês. Para quem me esteja a ler. Para quem me leia com atenção. Para quem me leia na diagonal. Escrevo aqui o que quero e o que não quero. Os meus dedos já há muito que me deixaram de respeitar. Escrevem sem pensar e esqueço-me que muitas vezes o silêncio é de ouro. Crescer, custa. Custa muito. Há tantas coisas boas na vida, e tantos desesperos. Uns feitos, outros desenhados, outros inventados, outros inevitáveis. Crescer custa. Viver com as consequências também. O olhar vai amadurecendo. Não que perca o brilho, mas conhece mais, descobre menos. Surgem responsabilidades. O tempo escasseia. E quem não faz nada que goste em cada dia, não vive esse dia. Começamos a trabalhar. Ganhamos o nosso primeiro cartão pessoal da empresa. Orgulhamo-nos por nos terem chamado para trabalhar. Espantamo-nos com o que acabamos por conseguir fazer. Interessamo-nos pelo que fazemos. Mas o lazer ficou em casa. Ficou naqueles anos de estudante em que não se fazia nada. Naqueles tempos em que stressavamos com uma frequência mas que tinhamos mais de metade do dia por nossa conta. Continuo feliz, como sou. Continuo alegre, porque não tenho razões para não ser. Tenho uma família que me ama e faz tudo por mim. Tenho amigos com quem tenho a certeza que posso contar. Tenho muitas coisas boas, mas de vez em quando a vontade de sair e ir ter com o mar e surfar a tarde toda fala mais alto. Ser enrolada. Gritar quando consigo dropar. Perder-me nas horas do dia, voltar quando tenho sono. Comer quando tenho fome. Dormir quando quero, divertir-me. Hoje sonhei com a minha mãe e com a minha avó. E que tinha pegado numa bebé ao colo. Essa bebé era eu. E isto não é nenhuma metáfora, apesar de também poder ser interpretado assim. Foi dos sonhos mais estranhos que já tive. Peguei-me com cuidado, porque nunca tinha pegado em bebés ao colo. Carinhosamente tirei-me dos braços da minha mãe e disse-me, aproveita esses anos, e não tenhas pressa de crescer. Quando somos pequenos, queremos ser grandes. Quando somos grandes, queremos ser pequenos. Talvez precise de um amor. Como já tive. Só assim é que sabe bem crescer... Não se preocupem, não ando triste. Não aconteceu nada de mal. Não fiz nada de mal. Só cresci.

3 Comments:

At quarta-feira, 01 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

A coisa que eu mais adoro neste mundo é indubitavelmente a personalidade humana... Vivam as amigdalas e os lobos pré frontais, a (inaparente) ausência de sentimentos dos adolescentes e o acordar do ser humano com as responsabilidades, as cicatrizes e os sorrisos e beijos que a vida teima em nos soprar na alma... Antes de mais, escreves por necessidade, tal como eu, para matares aquele vicio, que te mói, que te desperta quando estás embrenhada em algo menos criativo, como uma voz que te chama ao longe, ou como aquele sonho menos inesperado que nos acorda a meio da noite... O que tu escreves são os teus fragmentos, compostos, organizados por ti, naquela organização própria, no estilo que te define como somente tu és... Aos outros, como eu, compete, se a vontade for grande e a preguiça não for superior, a desconstrução de ti mesma e a reconstrução do que tu deixaste como legado literário, para criarmos a imagem pessoal que cada um de nós criará de ti... O silêncio é de ouro, quando a reflexão é imperativa ou quando as palavras são desnecessárias, porque, não poucas vezes, o silêncio é comprometimento, engano e desilusão... Por alguma razão o Deus Cristão, segundo diz o antigo testamento, expulsou Adão e disse-lhe que desde aquela dentadinha nada seria como antes... incluindo a metamorfose que se chama vida... a dor não existe só quando o cão nos morde ou algum imbecil morde o dito cujo, quando uma mulher pare um filho, quando o clube do teu coração perde ou quando recebemos aquele "último beijo" com sabor revoltante e impotente a despedida... ...O olhar vai amadurecendo. Pode perder ou não o brilho, depende do modo como enfrenta a luz que é reflectida pelo mundo que o rodeia. Conhece mais, sem dúvida, torna-se mais selectivo, claramente, mas discordo completamente que descubra menos... um olhar maduro é um olhar treinado, como os dedos teus e os dedos meus, que tão habilmente deslizam pelas teclas de um teclado ou pelos lábios de alguém, ou seguram incessantemente uma caneta para servir de espada ao cérebro que enfrenta o vazio quotidiano de ideias e alexitismos...( alexitímico=aquele que não consegue mostrar por palavras aquilo que o assola e sobeja em sentimentos)... ...Estou desejoso de começar a trabalhar e de deixar a faculdade de uma vez por todas... a minha vida de estudante já se arrastou por demasiadas faculdades e demasiadas tardes em que invejei outros com mais responsabilidades e sapiência do que eu... O lazer pode andar connosco em qualquer lado e para qualquer lado... ora diz lá que não levas a prancha de vez em quando nos dias de verão e dás uma escapadela antes de regressares ao teu porto seguro? "Continuo alegre, porque não tenho razões para não ser" E porque suspeito eu de que esse "continuo" sofreu uma paragem no seu contínuo desfiar de novelo cheio de vida? Se ainda sentes o beijo de alguém que amastes e lágrimas que só se curarão (segundo o que revelas) com aquela "poção mágica", a tua alegria tropeçou acidentalmente naquele poço que trazia escrito naquela tabuleta de aviso e que tu ignoraste " vazio permanente"... agora não sei se de lá já tiraste o pé ou se ainda estás a procura de xegar a tona... Aquele grito do ipiranga... axo que todos sentimos, pk todos somos afectados pela monotonia e rotina, apesar de sermos animais de hábitos... e a adrenalina, a endorfina e a dopamina, são as substâncias de abuso mais saudáveis que eu conheço e recomendo a todos....:P.... Sua hedonista.... :P O teu sonho, não te preocupes é das coisas mais frequentes na nossa idade... é aquele primeiro "estalo" que recebemos quando a responsabilidade bate a tua porta, como o homem do fraque bate a porta de quem deve e não paga... é a máquina do tempo, o querermos regressar à bucólica e idílica infância, a reconquista da inocência aos mouros, perdão, ao tempo, é o calor do ninho é o porto seguro onde queres voltar a amarrar-te e onde a entrada te é vetada e tu não compreendes porquê... ...Um amor não substitui outro. Por isso não vivas na ilusão de que o novo apaga as cicatrizes que o velho teimou em deixar... Um amor vive-se, cultiva-se, reparte-se, expande-se, é feito para nos magoar, cansar, esgotar, alimentar, recarregar, satisfazer... um dia escrevi que um amor é como uma flôr no deserto.... e é mais difícil criar uma flôr num deserto do que vencer sozinho um exército. Time to streatch my new wings and fly away from here.... P.S: Jeff Buckley - We all fall in love sometime... é capaz de te trazer um sorriso aos lábios e renovar o brilho do teu olhar, lembrando-te que ele continua a aprender cada vez mais e mais...

 
At quarta-feira, 01 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

Gostei muito de ler as tuas palavras :) , crescer é complicado mas é inevitável, é algo que é natural é mais um reflexo da nossa evolução, sempre a crescer e sempre a aprender, crianças vamos ser sempre…crescidos mas crianças. Bjs

 
At quarta-feira, 01 março, 2006, Anonymous Anónimo said...

bem zona... tinha escrito aqui um comentrio mas a treta da pgina deu erro... vou ento tentar escrever de novo..lol Dizia eu, zona que tenho acompanhado algum desse crescimento e que fico muito contente que dia aps dia estejas diferente mas sempre melhor! como o vinho do Porto...eheh :) Existem na vida batalhas mais difceis de travar do que outras, mas tou certa que irs conseguir travar todas elas e que daqui a muitos, muitos anos iremos ter outras tantas para travar mas olharemos para trs e s iremos ver muitos sucessos e cada dia cresceremos mais! Mil beijooosssssssssss!!!!!! ;)

 

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