2.23.2005

Informação espectáculo?

A informação está crivada de alguns vícios que a tornam pouco consistente, falaciosa e especulativa. Um deles, o que mistura 3 ingredientes: sangue, sexo e dinheiro. Esta fórmula faz subir as audiências, e isso é que é preciso.
A estes ingredientes, juntam-se ainda o aparentemente inesperado, o falso exclusivo e o surpreendente. Um exemplo de como a antecipação sem confirmação pode resultar em cenas ridículas, foi o caso de Angel Pui Peng, a cidadã portuguesa, de origem chinesa, condenada à morte. Num jornal foi anunciada a execução de Pui Peng, emprestando uma emoção especial ao acontecimento com a adição de alguns pormenores sórdidos dos últimos minutos de vida da condenada, umas quantas frases comovidas, outros tantos arrependimentos. No dia seguinte, soube-se que a aplicação da pena tinha sido adiada.
Mais um vício?
A ilusão do directo. A maximização da emoção é transmitida via informação em tempo real. Se ao directo se associar o imprevisto, então a informação-espectáculo atinge o seu ponto mais alto. Podemos falar também nos efeitos perversos do julgamento prévio e que é, talvez, o efeito mais perverso da informação-espectáculo. O querer mostrar mais, leva aos directos e às simulações, sem bases que os suportem. Sendo a informação mais rápida que a Justiça, o telespectador é induzido a fazer o seu próprio juízo, condicionando à partida o próprio julgamento. Um bombeiro voluntário passa a pirómano sem ir a julgamento.
Audiências! Audiências!
A incansável procura de factos faz com que alguma informação se assemelhe, perigosamente, a uma farsa. As inovações tecnológicas permitem que um noticiário seja uma volta ao mundo em 30 minutos, deambulando as imagens entre desgraças e cadáveres, entre escândalos e catástrofes. Sim, porque a rápida convalescença de uma menina não interessa. Interessaria se ela tivesse morrido a meio da operação. Negligência dos médicos. Isso sim, é notícia. Polémicas! Audiências! A informação-espectáculo vence assim a informação-educação, fazendo com que, apesar dos satélites, e talvez por culpa deles, o telespectador nada ganhe com as inovações tecnológicas ao nível da informação.

3 Comments:

At terça-feira, 22 fevereiro, 2005, Blogger Catarina Matos said...

Sim, a cultura do shot. Uma dose de realidade toda de uma vez, que atordoa como uma marretada.

 
At quarta-feira, 23 fevereiro, 2005, Blogger Miguel Costa said...

É verdade!! O sensacionalismo barato está em todo o lado! Mas uma coisa é certa... só vê quem quer. Felizmente, hoje em dia, é perfeitamente possível procurar, por diversas vias, a verdadeira informaçao. Cabe a cada um procura-la e não deixar que esta venha ter connosco. Infelizmente tem de ser assim....

By the way.... parabens por mais um blog divinal... e um grande beijinho para a miga Zofia! =)

 
At quarta-feira, 23 fevereiro, 2005, Blogger Homem da faina said...

Subscrevo quase inteiramente, mas discordo nalguns pontos cara madrinha..
Se é certo que o Infotainment trouxe o sensacionalismo para a ribalta, não menos correcto seria afirmar que a proliferação de canais por satélite "abriu as portas" a todo um manancial de informação e cultura que antes só encontrariamos disponibilizada em grandes enciclopédias, off ou on-line. Exemplos disso temos vários, que penso não ser preciso enumerar. É verdade que o jornalismo português ( e o dito "ocidental" ) está a enveredar por caminhos sinuosos, mas encontramos ainda bons exemplos numa profissão que deixou de ser um "chamamento" e um contra-poder para se tornar uma máquina de fazer dinheiro à custa das audiências.

 

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