4.16.2008

Luanda, onde estás tu?

Homens incompletos
Com uma perna das calças
Enrolada de qualquer jeito
E sem serventia

Coxas que terminam de repente
E sapatos encaixados
Em pernas postiças

Cidade de cicatrizes e cruzes
Antes eras florida
Agora tens mortos de guerra
Plantados nos teus jardins

Os que ainda sobram estão sós
Exaustos e famintos
Arrastam-se pelas ruas imundas
E afastam as moscas que voltam

Uma história com final infeliz
É a nossa
Abriga-nos debaixo desta terra
Vermelha e ainda amada

Tem pena de nós
Tira-nos de vez o funje de cada dia
E deixa-nos sangrar até à morte

De Luanda já não me lembro
Mas deve ter sido bonita...

4.01.2008

Olhos verdes

Sinto o zumbido de uma mosca na minha garganta
Sinto-lhe o gosto dos ovos postos na minha língua
Deixas as varejas no meu tapete vermelho
e eu contenho aos solavancos os vómitos dentro de mim.

Tu olhas para mim com os teus olhos verdes
Enquanto esfregas as tuas mãos uma na outra, uma na outra, uma na outra.